Raio-X de Flamengo x Botafogo. Saiba tudo da semifinal da Taça Guanabara
A principal rivalidade do futebol carioca nos últimos anos ganhará mais um capítulo da sua história nesta Quarta-Feira de Cinzas, a partir das 21h50m (de Brasília). Flamengo e Botafogo disputam no Maracanã o segundo clássico com caráter decisivo do futebol do Rio de Janeiro em 2010. Uma das semifinais da Taça Guanabara opõe as duas equipes que disputaram os títulos estaduais de 2007, 2008 e 2009, todos conquistados pelo Rubro-Negro - o Alvinegro foi campeão em 2006, mas enfrentando o Madureira na final.
A fragilidade das duas defesas, que sofreram o mesmo número de gols na fase de classificação; o poderio ofensivo do Império do Amor formado por Adriano e Vagner Love contra a dupla de hermanos Herrera e Loco Abreu; e um duelo à parte fora das quatro linhas, com Andrade, que levou o Flamengo ao hexacampeonato brasileiro, e Joel Santana, que traz na bagagem o currículo de campeão carioca pelos quatro grandes.
Ingredientes de um grande jogo, que o GLOBOESPORTE.COM vai acompanhar em Tempo Real, com vídeos dos principais lances. Mas antes do duelo, leva até você uma análise comparativa dos dois times setor por setor. Confira!
DEFESA
Bruno carrega um histórico vitorioso no Flamengo, e Jefferson devolveu confiança e segurança ao Botafogo
A defesa do Flamengo é o principal motivo de preocupação para os rubro-negros neste início de ano. Se o setor foi um dos responsáveis pelo título brasileiro no ano passado, este ano ainda não se encontrou e levou 13 gols em apenas sete jogos.
Um dos motivos parece ser a saída de Aírton, vendido para o Benfica. O volante fazia um papel importante na entrada da área, protegendo os zagueiros. Outro fator que parece ter sido determinante para o fraco desempenho defensivo foi a alta rotatividade de jogadores. Andrade só teve a defesa titular uma única vez, na vitória por 3 a 2 sobre o Americano, quando Bruno, Léo Moura, Álvaro, Ronaldo Angelim e Juan atuaram juntos. Mesmo assim, por pouco tempo, já que Léo Moura foi expulso aos 10 minutos da etapa final .
Dos titulares, apenas o goleiro Bruno jogou as sete partidas da Taça GB, mas não ficou isento de falhas como no segundo gol do empate em 3 a 3 com o Olaria. Léo Moura não disputou as duas primeiras rodadas, pois se recuperava de uma cirurgia no nariz, além de ter ficado fora do Fla x Flu por causa da expulsão na partida anterior.
Juan só estreou na quarta rodada, pois teve de cumprir suspensão ainda relativa ao Carioca passado. Álvaro desfalcou o time duas vezes, por expulsão (contra Duque de Caxias e contra o Fluminense). Angelim não teve problemas com os cartões, ficando fora apenas da estreia porque se apresentou mais tarde e ainda não estava totalmente em forma.
Além de contar com todo os titulares, outro ponto a favor do Rubro-Negro é a volta de Willians. Maior ladrão de bolas do time, ele retorna após uma contusão no tornozelo direito no início do primeiro jogo do time no Carioca. O volante só atuou depois no segundo tempo contra o Fluminense. Ele entrou no intervalo, quando o time perdia por 3 a 1, e foi fundamental na virada por 5 a 3.
Enfim, Andrade finalmente terá todos os jogadores do sistema defensivo em campo. Resta saber se o entrosamento será o mesmo do ano passado. Na teoria, o Fla tem uma defesa mais forte que a do rival. Na prática, porém, ambos sofreram o mesmo número de gols.
Com a ida de Juninho para o futebol sul-coreano, o Botafogo contratou Antônio Carlos (ex-Fluminense e Atlético-PR) para o papel de líder. Mas o início ruim na temporada fez com que Joel Santana optasse por um esquema com três zagueiros, lançando Fábio Ferreira ao lado do novo xerife e do remanescente Wellington.
O trio não funcionou, e Wellington foi barrado. O treinador não desistiu de reforçar o sistema defensivo, recuando o volante Fahel para o papel de terceiro zagueiro, e também de trabalhar o posicionamento. Houve uma melhora, mas os sustos e a desconfiança não acabaram. A equipe tem levado gols bobos no início das partidas e até mesmo quando está com a vitória assegurada - a goleada (5 a 2) sobre o Resende ilustra os dois casos. O pior momento, porém, foi na goleada por 6 a 0 para o Vasco - numa só partida, o Botafogo levou quase metade dos gols que sofreria em todo o turno.
Na lateral direita, apesar da disposição com que disputa todos os lances, Alessandro costuma deixar espaços para o adversário, ao mesmo tempo em que não costuma fazer jogadas pela linha de fundo, cruzando sempre da intermediária. Recém-chegado ao clube, Marcelo Cordeiro é mais regular atuando pela esquerda, mas precisa se desdobrar para cobrir os avanços do ataque adversário, pois apoia com frequência. O ponto positivo é o goleiro Jefferson, que trouxe confiança e segurança de volta ao clube. Isso depois de quatro temporadas de altos e baixos na meta alvinegra - mais baixos do que altos, e justamente no hiato entre a sua saída e seu retorno a General Severiano.
Quem leva a melhor: ninguém (empate)
MEIO-CAMPO
Perto da Copa da África, Kleberson é peça fundamental no Fla. Lucio Flavio busca a volta por cima no Bota
A proteção à zaga é um dos problemas rubro-negros neste início de temporada, mas a volta de Willians, recuperado de lesão, promete melhorar o setor para a semifinal. O maior ladrão de bolas do Brasileirão 2009 terá a companhia de Toró, enquanto Maldonado não retorna, e de Kleberson como terceiro homem de meio-campo.
Kleberson, com a motivação extra de ter sido convocado para a seleção brasileira, vai dividir a responsabilidade da armação com Vinícius Pacheco. Este último, por sinal, após ser emprestado para diversos clubes de menor expressão, parece ter resolvido agarrar a chance, que pode ser a sua última, de aparecer bem no clube que o revelou. Vinícius tem apoiado com desenvoltura e servido com competência à dupla Adriano-Love, enquanto Petkovic não entra em forma. O sérvio, que voltou a treinar com o elenco nesta segunda-feira, após ser afastado por indisciplina, deve ficar no banco para a semifinal.
No lado alvinegro, um meio de campo formado por um armador e três volantes, sendo que um destes (Fahel) atuará, na prática, como zagueiro. Não bastasse isso, o Botafogo pode fechar ainda mais o setor se Joel optar por Somália na vaga de Eduardo, que tem características mais ofensivas. Assim, Leandro Guerreiro completaria a proteção à defesa, e Lucio Flavio ficaria como principal responsável pela criação das jogadas. Apesar do apoio de Guerreiro e Eduardo (ou Somália), que se alternariam nas idas ao ataque, o camisa 10 tem a missão de ser o cérebro do time.
O capitão alvinegro, no entanto, vem lutando para recuperar o futebol que valeu a ele o apelido de Maestro. Após excelente atuação na estreia no Carioca, o meia caiu de produção e virou um dos alvos da torcida. Agora, em um momento decisivo, tem a grande chance de dar o primeiro passo. E apesar de o esquema permitir o avanço dos laterais, além de Herrera se movimentar bastante, sua tarefa será difícil. O arquirrival apresenta um setor mais consistente na hora de defender e sair para o campo adversário. E também mais opções de reposição.
Quem leva a melhor: Flamengo
ATAQUE
O clássico terá duelo de atacantes de seleções nacionais: Adriano pelo Brasil, e Loco Abreu pelo Uruguai
O setor mais forte do Flamengo em 2010 é o ataque. O Império do Amor, formado por Adriano e Vagner Love, vem fazendo a diferença em jogos que se mostram complicados, como o clássico contra o Fluminense. Os dois marcaram quatro dos cinco gols da vitória por 5 a 3, de virada, no Maracanã.
A tabela desde a saída de bola no gol decisivo contra o Americano (3 a 2) e o oportunismo de Love quando a partida parecia perdida para o Olaria (3 a 3) foram outros lances que marcaram o primeiro turno do Carioca. Com os dois em campo, justamente nestes três jogos, eles fizeram nove dos 11 gols da equipe, ou seja, cerca de 82% das bolas que foram para a rede tiveram o toque final de um dos dois.
O Botafogo começou a temporada com uma nova dupla de ataque. O argentino Herrera, contratado ao Grêmio, rapidamente caiu nas graças da torcida. Não apenas pelos gols, mas pela raça e movimentação. Cai pelos dois lados e acredita em todas as jogadas. A estrela, no entanto, atende pelo nome de Loco Abreu. Titular da seleção uruguaia, o jogador chegou com status de ídolo instantâneo, mas inicialmente acabou pagando pela irregularidade alvinegra.
O camisa 13 não terminou em campo as suas duas primeiras partidas (contra Vasco e Tigres) e demorou a desencantar, mas acabou mostrando que o papel de artilheiro é mesmo dele. Com cinco gols em cinco jogos, sendo quatro de cabeça, é a esperança do Alvinegro, que tem no jogo aéreo a sua principal arma para chegar à final. O time balançou a rede 18 vezes no primeiro turno, e em oito oportunidades usou a cabeça. Com 1,93m de altura, El Loco é o ponto de referência. Mas apesar de somar oito gols, a dupla de ataque ainda não está 100% entrosada, ao contrário de Adriano e Vagner Love, mais badalados e que tiveram empatia imediata em campo.
Quem leva a melhor: Flamengo
TREINADOR
Andrade vem de título brasileiro, enquanto Joel Santana possui um currículo cheio de conquistas no Rio
Depois de idas e vindas como interino, Andrade virou solução no meio do Brasileirão 2009. A aposta deu certo, e após 17 anos o Flamengo conquistou a competição nacional. O título foi importante para consolidar a sua carreira, mas o treinador precisa provar nesta temporada que veio mesmo para ficar. Afinal, ele passou por sua primeira pré-temporada como técnico efetivo, ajudou na montagem do grupo e no planejamento para 2010.
Até agora, no entanto, Andrade não conseguiu acertar as peças da equipe, apesar de ter vencido o único clássico que teve por enquanto (5 a 3 sobre o Flu). Lesões, suspensões e falta de condição física neste início de temporada também não o estão ajudando. Com o elenco que ele tem nas mãos, a torcida espera a conquista do tetra do Carioca e o bi da Libertadores. Mas só o tempo vai dizer se o técnico tem condições de levantar títulos tão significativos.
Joel Santana chegou ao Botafogo e encontrou um time despedaçado após a goleada (6 a 0) imposta pelo Vasco. Sem conhecer a grande maioria dos jogadores, usou da experiência para levantar o astral e melhorar a autoestima de todos. "Estava faltando o convidado principal", disse ele em sua apresentação. E não à toa. O técnico já foi campeão carioca por todos os quatro grandes - pelo Alvinegro, em 1997 - e sabe conquistar a confiança do elenco.
Com o seu estilo paizão, começou a mexer na equipe sem precisar trocar as peças que eram alvo da ira dos alvinegros (Lucio Flavio, Alessandro, Fahel e Eduardo). Em pouco tempo, uma equipe desorganizada e sem padrão de jogo passou a apresentar evolução em campo. Sob o seu comando no Estadual (três das sete partidas), o Botafogo fez 11 dos 18 gols e sofreu cinco dos 13. Mas está longe do ideal, e ele mesmo admite ao ressaltar que o seu trabalho se mostrará mais presente no decorrer do segundo turno. Em seu retorno ao clube, afirmou que não está no cargo para ser vice-campeão. A primeira prova para chegar à final do Carioca está marcada para esta quarta, e Joel já provou que sabe armar um time para conquistar objetivos em um curto período de tempo.
Fonte: GLOBOESPORTE